Poemas da Caminhada - Lúcia Constantino
O canto da alma é a única coisa que fica. E o que dele fizermos...
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29/07/2007 19h05
de Florbela, VI (sem título mesmo)
"Falo de ti às pedras das estradas,
E ao sol que é loiro como o teu olhar,
Falo ao rio, que desdobra a faiscar,
Vestidos de Princesas e de Fadas;

Falo às gaivotas de asas desdobradas,
Lembrando lenços brancos a acenar,
E aos mastros de apunhalam o luar
Na solidão das noites consteladas;

Digo os anseios, os sonhos, os desejos
De onde a tua alma, tonta de vitória,
Levanta ao céu a torre dos meus beijos!

E os meus gritos de amor cruzando o espaço,
Sobre os brocados fúlgidos da glória,
São astros que me tombam do regaço!"

(Florbela Spanca, Sonetos, Ed. Difel,SP, 1983, p.168)
Publicado por Lúcia Constantino
em 29/07/2007 às 19h05
 
29/07/2007 18h56
Poema vivo (Gabriela Mistral)

LÁPIDE FILIAL

"Apoiada na sêca frincha
do teu nicho venho dizer-te:
caros peitos que me nutriram
com um leite mais do que outro, vivo;
quietos olhos que me fitavam
com olhares que me cingiam;
amplo colo que me aqueceu
com uma chama que não se esfria
pequena mão que me tocava
com um contato que me fundia:
ressuscitai, ressuscitai,
se existe a hora e é certo o dia,
para que Cristo vos reconheça
e a outro país deis alegria,
para que pague meu Arcanjo
o sangue, o leite e as formas minhas,
e que por fim vos recupere
a vasta e santa sinfonia
de velhas mães: a Macabéia,
Ana, Isabel, Raquel e Lia.

(Gabriela Mistral)

Publicado por Lúcia Constantino
em 29/07/2007 às 18h56
 
29/07/2007 18h50
Soneto da Rosa (Vinicius de Moraes)

"Mais um ano na estrada percorrida
Vem, como o astro matinal, que a adora
Molhar de puras lágrimas de outrora
A morna rosa escura e apetecida.

E da fragrante tepidez sonora
No recesso, como ávida ferida
Guardar o plasma múltiplo da vida
Que a faz materna e plácida, e agora

Rosa geral de sonho e plenitude
Transforma em novas rosas de beleza
Em novas rosas de carnal virtude

Para que o sonho viva da certeza
Para que o tempo da paixão não mude
Para que se una o verbo à natureza."


(Vinicius de Moraes, Antologia Poética, Cia. das Letras, SP, 1996, p.153,154)

Publicado por Lúcia Constantino
em 29/07/2007 às 18h50
 
29/07/2007 18h45
Poema de Rilke, que adoro
"A minha vida eu a vivo em círculos crescentes
sobre as coisas, alto no ar.
Não completarei o último, provavelmente,
mesmo assim irei tentar.
Giro à volta de Deus, a torre das idades,
e giro há milênios, tantos...
Não sei ainda o que sou: falcão, tempestade
ou um grande, um grande canto."


(Rainer Maria Rilke, O Livro de Horas, tradução J. P. Paes)
Publicado por Lúcia Constantino
em 29/07/2007 às 18h45
 
11/07/2007 18h04
Um poema lindo de Lorca
ESTE É O PRÓLOGO

Federico Garcia Lorca

Deixaria neste livro
toda a minha alma.
este livro que viu
as paisagens comigo
e viveu horas santas.

Que pena dos livros
que nos enchem as mãos
de rosas e de estrelas
e lentamente passam !

Que tristeza tão funda
é olhar os retábulos
de dores e de penas
que um coração levanta !

Ver passar os espectros
de vida que se apagam,
ver o homem desnudo
em Pégaso sem asas,

ver a vida e a morte,
a síntese do mundo,
que em espaços profundos
se olham e se abraçam.

Um livro de poesias
é o outono morto:
os versos são as folhas
negras em terras brancas,

e a voz que os lê
é o sopro do vento
que lhes incute nos peitos
- entranháveis distâncias.

O poeta é uma árvore
com frutos de tristeza
e com folhas murchas
de chorar o que ama.

O poeta é o médium
da Natureza
que explica sua grandeza
por meio de palavras.

O poeta compreende
todo o incompreensível
e as coisas que se odeiam,
ele, amigas as chamas.

Sabe que as veredas
são todas impossíveis,
e por isso de noite
vai por elas com calma.

Nos livros de versos,
entre rosas de sangue,
vão passando as tristes
e eternas caravanas

que fizeram ao poeta
quando chora nas tardes,
rodeado e cingido
por seus próprios fantasmas.

Poesia é amargura,
mel celeste que emana
de um favo invisível
que as almas fabricam.

Poesia é o impossível
feito possível. Harpa
que tem em vez de cordas
corações e chamas.

Poesia é a vida
que cruzamos com ânsia,
esperando o que leva
sem rumo a nossa barca.

Livros doces de versos
sãos os astros que passam
pelo silêncio mudo
para o reino do Nada,
escrevendo no céu
suas estrofes de prata.

Oh ! que penas tão fundas
e nunca remediadas,
as vozes dolorosas
que os poetas cantam !

Deixaria neste livro
toda a minha alma...

( tradução: William Agel de Melo )
Publicado por Lúcia Constantino
em 11/07/2007 às 18h04
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